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Escritor dos refúgios e colonialismo ganha Nobel de Literatura

quinta-feira 7 de outubro de 2021, por MEMO - Monitor do Oriente Médio,

A Academia Sueca anunciou nesta manhã de quinta-feira que Abdulrazak Gurnah ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2021 “por sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes.”

A Academia Sueca anunciou nesta manhã de quinta-feira que Abdulrazak Gurnah ganhou o Prêmio Nobel de Literatura 2021 “por sua penetração intransigente e compassiva dos efeitos do colonialismo e do destino do refugiado no abismo entre culturas e continentes.”

Anders Olsson, presidente do comitê que concede o prêmio, disse na entrevista coletiva na quinta-feira que Gurnah “é amplamente reconhecido como um dos escritores pós-coloniais mais proeminentes do mundo”. Gurnah “de forma consistente e com grande compaixão, penetrou os efeitos do colonialismo na África Oriental e seus efeitos nas vidas de indivíduos desenraizados e migrantes”, acrescentou.

Primeiro africano a ganhar o prêmio em quase vinte anos, Gurnah nasceu em 1948 e cresceu na ilha de Zanzibar, que hoje faz parte da Tanzânia, chegando na Inglaterra na década de 1960 como refugiado. “Após a libertação pacífica do domínio colonial britânico em dezembro de 1963, Zanzibar passou por uma revolução, que, sob o regime do presidente Abeid Karume, levou à opressão e perseguição de cidadãos de origem árabe; massacres ocorreram”, relata a academia, em nota à imprensa. De origem árabe, Gurnah precisou fugir aos 18 anos, passando a morar na Inglaterra.

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Em 1987, aos 21 anos, escreveu seu primeiro livro (“Memory of Departure”) sobre um jovem que parte em busca de refúgio em Nairobi, na casa de um um tio, mas humilhado e explorado, é obrigado a voltar para a casa do pai alcoólatra e da irmã forçada a se prostituir.

A partir daí publicou dez livros e vários contos, sempre retornando à temática do refúgio e dos impactos do colonialismo. Entre eles estão “Pilgrims Way” (1988), “Dottie” (1990) e “Paradise” (1994). Este último se passa na virada do século XX, quando a África Oriental estava sob controle colonial alemão, o romance Paraíso de Abdulrazak Gurnah, de 1994, inclui relatos da última das caravanas “árabes” comerciais da costa da África Oriental , passando por versões bíblicas da história de Yusuf.

A crítica literaria Laura Winters, escreveu no The New York Times em 1996 sobre outra obra,“Admirando o Silêncio” dizendo que o autor “habilmente descreve a agonia de um homem preso entre duas culturas, cada uma das quais o repudiaria por seus vínculos com as outras. ”

Os personagens de seus romances, acrescentou Olsson, “se encontram no abismo entre culturas e continentes, entre a vida deixada para trás e a vida futura, enfrentando o racismo e o preconceito, mas também se obrigando a silenciar a verdade ou reinventar a biografia para evitar conflitos com a realidade. ”

Gurnah fala suaíli, escreve em inglês e mantém traços de árabe e alemão em suas obras. Antes dele, foram premiados os africanos Wole Soyinka da Nigéria,em 1986ç Naguib Mahfouz do Egito, em 1988; e os sul-africanos Nadine Gordimer em 1991 e John Maxwell Coetzee em 2003.

Este ano, a academia foi criticada pela falta de diversidade, sendo que 95 dos 117 ganhadores do Nobel anteriores eram da Europa ou da América do Norte, e que apenas 16 vencedores eram mulheres.

No ano passado, a poetisa americana Louise Glück recebeu o prêmio de literatura. Em 2019, a academia foi criticada por dar o prêmio ao escritor Peter Handke, acusado de negar genocídio nas Guerras dos Bálcãs da década de 1990 – incluindo o massacre de Srebrenica, no qual cerca de 8.000 homens muçulmanos e meninos foram assassinados.

Anexo: Abdulrazak Gurnah [wikimedia]


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